Se Eu Usasse Sapato

Queria saber se da mesma forma
Que em mim, acontece em você
De, vez ou outra, imaginar cenários

Onde seria possível reorganizar as peças, os astros
A ordem dos acontecimentos
Me conhecer num outro tempo, outro contexto
Num caminho qualquer

De um livro escrito ao contrário
Longe da fama, da música, das composições
Das janelas e placas e carros
Das estradas e metros quadrados

Queria saber como seria
Queria saber como seria

Um lugar onde escutei
Meus desejos mais sujos
Ao invés do que era sagrado
Mas pra mim impróprio

E as verdades que eu nunca disse
Estampassem com tinta
Os quadros de uma sala impossível
Num país inventado

Se eu tivesse o seu nome
Se eu usasse sapato
Se nos víssemos simultaneamente
Mais gordos e mais magros

Se eu quebrasse o silêncio
E saísse do aquário
Se eu falasse o que eu penso
Sem pensar no que eu falo

Queria saber como seria
Queria saber como seria
Queria saber como seria
Queria saber

Queria saber como seria
Se eu tivesse dobrado a esquina