Chegança
Antônio Nóbrega
3:58Meu lunário tem antigas alquimias de almanaque Já enfrentou intempéries, roubos, incêndios e saques Dos homens, das traças, das garras, das eras Carrega segredos, decifra quimeras Venceu todos os ataques O meu lunário perpétuo sob o sol é luzidio Meu lunário foi forjado num fogo de desafio Que vibra, esquenta, atiça, aperreia, faísca Enlouquece, que pega na veia Pelos séculos a fio O meu lunário perpétuo guarda as vozes seculares Do profeta de Canudos e do mártir dos Palmares Sonhando com o reino do espírito santo Na Terra, no céu e em todo recanto Nos terreiros e altares O meu lunário perpétuo é meu livro precioso Minha cartilha primeira, minha Bíblia de Trancoso João Grilo, Chicó, Malazartes, Mateus Os órfãos da terra, os filhos de Deus Heróis do maravilhoso Meu lunário é a memória de um país que vai passando Diante dos nossos olhos, rindo, mexendo, cantando Mestiço, latino, caboclo, nativo É velho, é criança, morreu e tá vivo Presente, mas até quando? Meu lunário é conselheiro, é meu folheto, é meu missal Atravessando os milênios, cada ponto cardeal De norte a sul, de pai para filho, de lá para cá Meu livrinho andarilho Fabuloso romançal