Lisboa, Menina E Moça
Carlos Do Carmo
Eles não sabem que o sonho É uma constante da vida Tão concreta e definida Como outra coisa qualquer Como esta pedra cinzenta Em que me sento e descanso Como este ribeiro manso Em serenos sobressaltos Como estes pinheiros altos Que em verde e ouro se agitam Como estas aves que gritam Em bebedeiras de azul Eles não sabem que o sonho É vinho, é espuma. é fermento Bichinho alacre e sedento De focinho pontiagudo Que fossa através de tudo Num perpétuo movimento Eles não sabem que o sonho É tela, é cor, é pincel Base, fuste, capitel Arco em ogiva, vitral Pináculo de catedral Contraponto, sinfonia Máscara grega, magia Que é retorta de alquimista Mapa do mundo distante Rosa dos ventos, Infante Caravela quinhentista Que é Cabo da Boa Esperança Ouro, canela, marfim Florete de espadachim Bastidor, passo de dança Culombina e Arlequim Passarola voadora Para—raios, locomotiva Barco de proa festiva Alto—forno, geradora Cisão do átomo, radar Ultra som televisão Desembarque em foguetão Na superfície lunar Eles não sabem, nem sonham Que o sonho comanda a vida Que sempre que um homem sonha O mundo pula e avança Como bola colorida Entre a mãos de uma criança