Sureña
Edilberto Bérgamo
2:41TRADIÇÃO Vem no meu chapéu tapeado No idioma desta cordeona Que traz nas cores do fole Alguma flor temporona. Na cor vermelha do lenço No pala da mão canhota; Na voz cantora que pede Que eu busque “mais uma volta”. Vem na minha forma de tempo No idioma simples que falo; Entre horizonte, distância E um índio bem a cavalo. Numa reunião de carreira, Num parador de rodeio; Quando escramuço algum verso “ De apartá pinto em terreiro”. Vem no olhar “lusco-fusco” De quem nem viu a manhã; Entre polvadeira e canha E a tisna do picumã. Baile gaúcho de campo Algum bochincho ou assombro; De “atirá” o pé de ponta E a China “espiá” sobre o ombro. Vem num bagual estindo Com sismas da boca atada; E um domador pacholeando Cuidando a sombra na estrada. Nalgum bolicho de campo Na cruz duma encruzilhada; Fumo, balcão de algum vinho E a religião da indiada. Vem no meu verso crioulo Alma de vento e luzeiro; Vem na cordeona que pulsa No peito desse gaiteiro. Na voz gaúcha dos tempos Na gente desse meu chão; Na verdade do meu canto “Tapado” de Tradição.