Milonga Abaixo De Mau Tempo
José Cláudio Machado
5:21Nos rincões da minha querência, Arrabaleira conforme a vontade, Me serve um mate, pampa minha, Nesta vidinha que me destes. Antes que embeste a novilhada Pro mundo alheio das porteiras, Saúdo a poeira dessas crinas Que me arrocinam sujeitando. E da garupa do cavalo, Faço um regalo à ventania, Que na poesia destas léguas, Tomo por rédeas e conselhos. Chamo no freio a coisa braba. O tempo é feio, mas que importa? Quando se engorda na invernada, Não falta nada pra quem baba, De focinho levantado e mais curioso, A fim de ir à estância do passo, Na direção de casa, costeando o arvoredo. O meu desespero porfia com a tropa, Fazendo o que gosta, ao sul de mim mesmo. E todo o bem que havia, maneado ao destino, Divide caminho com a rês que amadrinha. O rio que eu não via, Mimando de sede a minha saudade... Na função dos meus afazeres, Rememorados conforme a manada, Vou ressabiando, afeito à fadiga, Nas horas mingas de sossego. Talvez melhore durante a sesteada — Sou, por mais igual, à campanha. Tamanha a alma de horizontes, Ali defronte os cinamomos, Já não habita a teimosia, Atropelando o meu rodeio. Quando me aguento no forcejo Pra erguer no laço os caídos, Não me lastimo, nem receio. Vou pelo meio do sinuelo, Tocando manso os mais ariscos, Só pelo vício de pôr quartos, Cuidar do gado, Rondando o baio que amanuceio.