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Lisandro Amaral - Canto Ancestral | Скачать MP3 бесплатно
Canto Ancestral

Canto Ancestral

Lisandro Amaral

Альбом: Canto Ancestral
Длительность: 6:05
Год: 2019
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Текст песни

Eu canto
pela mesma razão
que obriga a calhandra 
a povoar o capão de coronilhas
de rebanhos de notas 
e tropilhas de som...
Pela mesma razão 
que força o arroio a correr
e o umbu a dar sobra e crescer.
Meu bisavô farroupilha,
cujas mãos na guerra eram garras,
eram flor na guitarra, 
eram luz no rincão,
abriu-me picadas para sonoras liberdades...!
Remarcou fronteiras flutuantes,
espichou os lançantes até o Uruguay.
E lutando
e cantando
Legou-me hombridade,
um rumo
e canção.
Era um diabo – hoje é santo!
Por isso eu canto!

Meu bisavô farrapo,
changueador, vaqueano e vago,
que era pária, era lixo, era trapo,
hoje é luxo,
hoje é guapo...
Hoje é rua, hoje é praça, hoje é busto...
(que susto levaria se saltasse da pradaria
 que serviu de campo-santo!)
A história mudou – e quanto!
Por isso eu canto!
E canto!
E canto!

Meu vago ancestral charrua, 
cuja figura nua,
ondeando o lombo do flete,
mesclando melena e crina,
evitou que essa campina 
um dia virasse brete
de aventureiros errantes...
Enfrentou os Bandeirantes, 
Lusitanos e Espanhóis,
chuvas, pampeiros e sóis,
porque a terra tinha dono.
Hoje é cidade, tem trono!
A história mudou – e quanto!
Na teologia das avós
– duzentos anos após –
Sepé Tiaraju é Santo! 

Por isso eu canto
e canto 
e canto..!

Cantar para mim é um fatalismo telúrico,
um determinismo da raça...
Meu bisavô era umbu
e eu – calhandra em seu galho!
Meu bisavô era bambu
que os tempos fizeram lança,
que os ventos fizeram quena...
E eu, consequência apenas
desses tempos,
desses ventos,
me transformei em canção!
E canto para os de então!
E canto para os de então!

Outros mais terão motivos
para celebrar os vivos
que reinam, falam em paz.
E eu, que sou pássaro triste,
bagual e de pouca voz;
eu, que escutei as avós
e que não conheço alpiste,
cantarei os da culatra:
esses que fizeram pátria!
Cantarei sempre os de trás!