Semente De Tudo
Zé Geraldo
3:52Quando cheguei nessa terra Com uma mão na frente a outra atrás O corpo comprava briga A alma clamava paz Meu companheiro de pensão vivia falando Oxente, bichinho, cabra da peste E eu retrucava: Uai, uai Um chamava pela mãe, o outro gritava: Pai Uai, bichinho, cabra da peste, uai Uai, uai, uai, uai, uai De manhã, corria cada um pra um canto Procurando uma colocação Um comprava o Diário Popular O outro lia o Estadão À noite notícias de casa Novidades, saudades e beijos A carta dele cheirava a jabá E a minha cheirava a queijo Uai, bichinho, cabra da peste, uai Uai, uai, uai, uai, uai Domingo de manhã, o Sol bem quente A gente ia tirar fotografia Lá no Ibirapuera, sabe comé'? Eu de camisa bordada no bolso Sapato sem meia, bem playboy Meu parceiro de roupa de brim Precata no pé! Quando dava três horas da tarde o tempo virava Pintava um bitelo' dum' frio A gente tremia que nem vara de marmelo E o pessoal dava risada de nóis Uai, bichinho, cabra da peste, uai Uai, uai, uai, uai uai Uma temporada meu parceiro Foi passear na terra dele Voltou aperreado, porque os meninos de lá Tavam falando gírias de Copacabana Eu disse pra ele Fique frio, parceiro Não se avexe, não Isso aí é reflexo da televisão em rede, uai Afinal de contas Pra que curtir o nosso sotaque, o nosso folclore? Se logo, logo a gente vai ter Uma linguagem só padronizada É um tal de oxente, my love Bah, my friend É muito you pro meu uai, sô' Já faz muito tempo que eu tô nessa terra Muita coisa já ficou pra trás Meu corpo cansado já não compra briga Mas a alma ainda pede paz Meu companheiro de pensão até hoje fala Oxente, bichinho, cabra da peste E eu continuo falando: Uai, uai Com as cacetadas desses anos todos Eu fiquei mais véio' que meu véio' pai Uai, bichinho, cabra da peste, uai Uai, uai, uai, uai, uai Bichinho, cabra da peste, uai